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Com asas corajosas, ela ri e voa

Paula Robertson é ruidosa, ocupada, conta sempre piadas hilariantes e é excelente a resolver problemas: uma mulher portuguesa típica. Depois de ter sido diagnosticada com cancro colorretal prometeu nunca mudar a sua personalidade. Na verdade, suas características únicas foram apenas reforçadas. Ela até viu o lado engraçado de ter uma bolsa de estoma, e deu-lhe o nome Winnie the Pooh. Esta avó orgulhosa partilha connosco a sua história.

Paula Robertson (59) mora em Glenvista, JHB com o marido. Ela tem dois filhos adultos e uma neta

Os médicos deduziram que Paula estava, sem saber, a viver com um tumor de 11 centímetros há cerca de oito a dez anos. Foi só no final de 2014 que Paula começou a sentir cólicas, mas quando ia à casa de banho não saía nada. As cólicas continuaram e apenas duas horas depois a sua barriga finalmente funcionou, mas as suas fezes eram duras e em forma de bolinhas. O mesmo voltou a ocorrer duas semanas depois, e decidiu ir ao seu médico de família.

Depois de uma ecografia, duas semanas de antibiótico e um laxante para amolecer as suas fezes e após uma colonoscopia, confirmou-se na sexta-feira 29 de janeiro de 2015 que tinha cancro do cólon. A boa notícia, no entanto, foi que o tumor estava acima do reto, o que significava que não teria que viver com um estoma (uma abertura artificial convertida num órgão oco na superfície do corpo até ao intestino) para o resto da sua vida, mas apenas temporariamente. O tumor estava a provocar um bloqueio, deixando apenas o diâmetro de um dedo para que as fezes saíssem.

Winnie The Pooh

Na segunda-feira seguinte, foi submetida a uma colostomia, procedimento cirúrgico que traz uma porção do intestino grosso até à parede abdominal para transportar as fezes para fora do corpo.

Como típica senhora portuguesa que é, deixou listas e mais listas no frigorífico a explicar o que a sua família precisava de fazer enquanto estivesse no hospital.

A princípio, Paula ficou arrasada por precisar de uma bolsa de estoma, mas percebeu que precisava de ficar grata por isso. “Aceitei-a como parte do meu corpo e dei-lhe o nome de Winnie the Pooh (WTP). Soltava gases e eu dizia 'não fui eu, foi o WTP.'” Tornou-se uma piada comum entre ela, o marido e a família. Quando demorava para se arranjar (com troca de bolsa etc.), ele dizia: “sei que não és tu, é o WTP”. Paula admite que foi através desta brincadeira que ficou mais fácil lidar com o assunto.

Tratamento

As cinco semanas seguintes consistiram em quimioterapia e radioterapia no mesmo dia com o objetivo de reduzir o tamanho do tumor antes da remoção. Foi prevista uma redução de 15%, mas notavelmente houve uma diminuição total de 30%. Foi então submetida a uma proctossigmoidectomia (excisão cirúrgica parcial do reto e cólon sigmóide) em junho, com a remoção do tumor e de 30 cm dos intestinos, juntamente com mais 30 gânglios linfáticos.

Nos meses que antecederam a cirurgia, Paula foi submetida a uma dieta especial recomendada por uma nutricionista. Tinha que evitar cascas de frutas e sementes, soja, grão-de-bico, lentilhas – qualquer coisa que fosse difícil de digerir e pudesse ficar presa e causar um bloqueio. Também evitou alimentos que lhe causavam gases, bem como bebidas gaseificadas. Bebia Rehidrat a cada dois dias para evitar a desidratação, pois só podia beber pequenos golos de água. Se engolisse quantidades maiores, iriam diretamente para a bolsa e o seu corpo não absorvia nada.

Tudo relacionado com o estoma

Paula explicou que inicialmente (com o estoma) havia uma confusão quando ela precisava de ir à casa de banho. “Uma pessoa ainda mantém as mesmas sensações que teria, alertando-a de que precisa de ir à casa de banho… Disseram-me para me sentar na sanita como de costume, o que fiz – mas ia tudo para o saco.”

Paula descreveu como se sentava de frente para o autoclismo, para que o saco fosse esvaziado na sanita, facilmente e sem sujidade. Tinha que trocar a bolsa do estoma todos os dias e a base do estoma uma vez por semana (um procedimento que lhe foi ensinado). Após uma semana, Paula já se sentia confortável se tivesse de ir à casa de banho em pé, na rua, "a tratar dos seus assuntos". As roupas de maternidade foram a solução de Paula para o problema de encontrar roupas confortáveis para usar com a bolsa de estoma.

Planos de casamento

Na altura, o filho de Paula ainda morava com eles, mas estava previsto que o casamento se realizasse em dezembro, na Ilha Maurícia. Paula disse ao filho para manter os planos, pois lá estaria para vê-lo casar-se. “O meu oncologista foi incrível e garantiu-me: 'Não se preocupe, Paula, vamos levá-la até lá'”, disse Paula, agradecida.

A bolha da quimioterapia

Após a cirurgia, foi-lhe colocado um cateter central para a administração da sua quimioterapia preventiva com o regime FOLFOX. Este tipo de quimioterapia seria administrado por via intravenosa no hospital durante três horas e depois Paula voltaria para casa com uma 'bolha de quimioterapia'. Quando a 'bolha da quimioterapia' estivesse plana (vazia) após dois dias, ela voltava ao hospital para removê-la. Como sempre, Paula viu o humor da situação e deu à bolsa o nome Louis Vuitton. “Esta era uma bolsa muito cara – 8 000 rands por uma bolsa!”, disse.

Os 12 ciclos de FOLFOX, administrados a cada duas semanas, deveriam ser concluídos em seis meses, no entanto, uma vez que desenvolveu uma colite (inflamação do revestimento interno do cólon), que apresentava uma baixa contagem de glóbulos brancos e dada a sua viagem a Maurícia, o tratamento demorou quase um ano. A quimioterapia de Paula foi temporariamente interrompida em outubro; apenas seis tratamentos foram concluídos e o seu estoma foi revertido, deixando cinco semanas para a ferida cicatrizar antes de ela embarcar para assistir ao casamento do filho. “Eles cumpriram o meu desejo”, disse Paula em lágrimas.

Uma rainha sentada no seu trono

No dia seguinte à reversão do estoma, a barriga de Paula funcionou. “Uma pessoa nem dá valor a como é bom sentar-se na sanita... Eu era como uma rainha sentada no seu trono... Todos os dias me sento na sanita e agradeço a Deus por poder fazê-lo”, disse ela. No início, ela teve que comer alimentos macios como gelatina e creme, depois passar lentamente para uma dieta normal. Atualmente ainda evita grão-de-bico e lentilhas, uma vez que lhe provocam cólicas.

Assim que Paula voltou da Ilha Maurícia, os seis tratamentos de quimioterapia restantes foram concluídos. Nunca mais teve colite – ela acha que foi porque o estoma foi invertido. Mesmo lutando contra muitos efeitos secundários da quimioterapia, como dormência nos pés e nas mãos, cansaço e falta de paladar, ela sempre procurou soluções para superá-los. Usava luvas de lã para evitar a sensação dolorosa que sentia ao tocar em coisas frias, vivia à base de torradas e sopa quando não podia comer mais nada e ficava muito satisfeita consigo mesma se conseguisse descascar uma batata, mesmo que demorasse uma hora.

Atualmente, Paula faz acompanhamentos a cada três meses e uma TAC anual. O seu cateter central ainda se mantém – deve ser retirado em junho deste ano (2017) – e é retrolavado a cada três meses. Os seus filhos foram aconselhados a fazer colonoscopias anuais a partir dos 35 anos.

Paula acredita que é preciso que a mente, corpo e alma trabalhem juntos para superar esta situação, “Uma pessoa não pode esperar que os médicos façam tudo…eu sou católica…essa experiência aprofundou o meu relacionamento com Deus. Tive de cavar mais fundo para superar isso”, explicou ela.

Antes de Paula embarcar nesta viagem, não sabia o que esperar dela, por isso não sabia o que levar na sua pequena mala de viagem, mas sabia que precisava de fé, esperança e coragem. E foi isso que ela levou consigo. “Deus deu-me umas botas fortes para caminhar nesta estrada, mas quando cheguei ao fim, Ele deu-me umas sandálias confortáveis.”

Créditos de fotografia: Chantal Drummond Photography | info@chantaldphoto.co.za | 

www.chantaldphoto.co.za

Editor: Laurelle Williams

Publicado originalmente em oncologybuddies.com

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